06/02/2025

Os 10 passos que aumentam o aleitamento materno entre prematuros e podem salvar vidas

Carmen Gracinda Silvan Scochi
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP)

“No começo, foi difícil. Nascido com 25 semanas, ele tinha dificuldade para sugar meu leite. Mas, com a ajuda da equipe do estudo e uma dedicação diária e constante, consegui amamentar meu bebê pela primeira vez”.

O relato acima resume bem as dificuldades de se amamentar prematuros pequenos e de muito baixo peso. É de uma das mães dos 4600 bebês nascidos antes das 37 semanas que participaram de um estudo da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). O projeto implementou a Iniciativa Hospital Amigo da Criança para unidades neonatais (IHAC-Neo) em centros das cinco regiões do Brasil e mediu seus impactos. “O objetivo da intervenção foi aumentar o início precoce e a prevalência do aleitamento materno exclusivo em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais para melhorar as condições de saúde dos prematuros”, afirma a pesquisadora Carmen Scochi, doutora em enfermagem pela USP e especialista em enfermagem neonatal. “Também avaliamos a adesão dos profissionais a essas boas práticas”.

A IHAC-Neo, proposta por pesquisadores nórdicos e de Quebec-Canadá, congrega os Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno adaptados para as necessidades das unidades neonatais, os Três Princípios Norteadores e o Código de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno. Os Dez Passos adaptados incluem tanto medidas para os profissionais de saúde como a “garantia de educação e treinamento de toda equipe no conhecimento e em habilidades específicas” quanto para as mães – “permitir que elas e seus bebês permaneçam juntos 24 horas por dia” – e pais: “prepará-los para a continuidade da amamentação e assegurar acesso aos serviços de apoio/grupos após a alta hospitalar”. 

Amamentar um prematuro é uma tarefa que realmente requer uma equipe de saúde motivada e treinada. Devido a imaturidade de todo o organismo, é comum que os prematuros tenham certa dificuldade em coordenar a sucção, deglutição e respiração, o que pode interferir na amamentação e, ao mesmo tempo, gerar sentimento de incapacidade na mãe. Quanto menor a idade gestacional do bebê (com quantas semanas de gestação ele nasceu), mais difícil é sua alimentação pela boca, o que requer sondas e atrasa ainda mais a transição para o peito. Quando não são amamentados, eles acabam precisando das fórmulas comerciais de alto custo e que, inclusive, podem agravar problemas de saúde.

Por essas e outras razões, um estudo de Pernambuco de 2014 com 93 prematuros verificou que apenas 22,6% haviam sido amamentados na primeira hora de vida, fator essencial para estabelecer o vínculo mãe-filho. Além disso, o leite materno protege contra a enterocolite necrosante (inflamação intestinal em que porções do intestino sofrem necrose), e melhora o sistema imune, garantindo menor incidência de infecções como sepse (infecção generalizada) e meningite e de re-hospitalizações, muito comuns nesta fase.

O estudo foi realizado em nove hospitais distribuídos nas cinco regiões do Brasil (norte, nordeste, centro oeste, sudeste e sul), cinco para receber a intervenção IHAC-Neo e quatro não (controle). A pesquisa mediu os impactos da implementação dos 10 passos em relação a dois indicadores: o aleitamento materno exclusivo entre prematuros e a adesão às medidas por parte dos profissionais de saúde.

O hospital que recebeu a intervenção na região sul, em Londrina (PR), foi o único que aumentou significativamente as taxas de aleitamento materno exclusivo tanto na alta hospitalar (de 29,8% para 84,4%) como no primeiro mês em que o prematuro estava em casa (de 27,3% para 77,1%). “Os resultados se devem ao grande comprometimento de todos: de líderes a residentes”, explica Carmen. Para além de treinamento e engajamento, a IHAC-Neo incluiu um conjunto de medidas de baixo custo e alto impacto, como disponibilizar acomodações para a mãe permanecer ao lado da incubadora do bebê no chamado cuidado canguru, contato pele a pele entre a mãe e a criança.

Depois de Londrina, o segundo maior aumento da adesão às boas práticas de incentivo à amamentação de prematuros ocorreu no hospital intervenção do sudeste, em Ribeirão Preto – SP. “As mulheres que participaram do programa se mostraram mais motivadas para os cuidados do filho e, com isso, conseguiram maior apoio por parte dos pais e da família”, afirma Adriana Moraes Leite, outra pesquisadora do estudo.

Segundo Carmen, as razões para a baixa adesão nos outros centros vão desde a falta de profissionais treinados em métodos de melhoria da qualidade à alta rotatividade de funcionários, que prejudicam a sustentabilidade das mudanças na prática. Agora a equipe pretende voltar aos hospitais que tiveram maior adesão para coletar os mesmos dados e avaliar os impactos mais de um ano depois. “Queremos entender quais fatores fizeram a diferença para a continuidade das boas práticas da IHAC-Neo e contribuir com a inclusão desta iniciativa expandida também como requisitos obrigatórios para um hospital que atende prematuros se tornar Amigo da Criança”, diz Carmen.

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