O estudo da equipe de Moron teve o objetivo de identificar se microorganismos, substâncias e compostos do microbioma vaginal poderiam detectar com precisão um encurtamento do colo do útero e, portanto, um risco maior de parto prematuro. “Nosso objetivo foi avaliar se era possível acrescentar um terceiro fator de predição aos dois já existentes”, afirma o especialista em imunologista da reprodução Steven Sol Witkin, professor Emérito do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, Weill Cornell Medicine, e parceiro de Moron na pesquisa. A equipe coletou duas amostras vaginais de 568 mulheres entre 18 e 24 semanas de gestação em hospitais de três cidades brasileiras: São Paulo, Jundiaí e Fortaleza. O comprimento do colo do útero foi avaliado por ultrassonografia transvaginal. Também houve análise da composição do microbioma vaginal. Entre as 40 espécies encontradas, três bactérias foram as mais comuns: Gardnerella vaginalis, Lactobacillus inners e L. crispatus. Esta última é a grande responsável por aumentar os níveis de D-ácido lático, importante substrato para manter o colo uterino saudável. O estudo mostrou que a combinação de baixos níveis de D-ácido lático e alta concentração de um marcador de inflamação, o TIMP-1 (inibidor tecidual da metaloproteinase 1), nas secreções vaginais representa um indicador confiável de que o L. crispatus deixou de predominar na flora e há um maior risco de encurtamento do colo e de parto prematuro espontâneo. Quando combinado ao ultrassom transvaginal, o teste foi capaz de identificar 71% dos nascimentos antes das 37 semanas na amostra avaliada contra apenas 31% previstos pelos dois métodos convencionais (histórico e medição de colo).
A análise de microbioma se mostrou confiável mesmo na ausência do ultrassom, permitindo rastrear, ao redor de 60% dos casos de parto antes do tempo. “Isso demonstra que o método pode ser uma maneira simples e custo-efetiva de avaliar o predomínio de L. crispatus ou de outros microrganismos e o comprimento do colo do útero durante a gravidez sem a necessidade de recursos caros e sofisticados como o sequenciamento genético”, diz Moron. “Os resultados podem gerar um novo teste para identificar riscos de prematuridade e estabelecer novos protocolos”.
Os pesquisadores também avaliaram 107 de 600 amostras vaginais e descobriram, pela primeira vez, que alguns vírus, os chamados bacteriófagos, por infectarem bactérias, também poderiam ter influência no comprimento do colo do útero. A equipe está em busca de financiamento para um novo estudo que testaria a eficácia do método no primeiro trimestre de gravidez e a viabilidade de transformá-lo num diagnóstico. “Nossa ideia é criar algo simples de usar e acessível, similar a um teste de gravidez”, diz Moron. “Também queremos avaliar a influência dos vírus no comprimento do colo do útero pela primeira vez na literatura.”