A intervenção soma duas fontes de dados para criar um algoritmo capaz de orientar os médicos sobre a melhor conduta. O primeiro é um teste que analisa a concentração de duas substâncias no sangue da gestante: a sFlT-1 (tirosina quinase solúvel) e o PlGF (fator de crescimento placentário). Quando há a pré-eclâmpsia, os níveis de sFlT-1 estão elevados e os níveis de PlGF reduzidos quando comparados com uma gravidez normal. O exame mede a relação entre eles, o que dá informações mais precisas sobre a gravidade da doença.
Além disso, o estudo incorporou ao algoritmo um protocolo da Organização Mundial da Saúde (OMS) chamado fullPIERS (Pre-eclampsia integrated estimate of risk). Trata-se de um modelo que combina seis variáveis baseadas em sintomas (como dor no peito), sinais e testes laboratoriais para informar ao médico qual paciente está sob um risco excessivo e pode desenvolver complicações graves relacionadas à hipertensão dentro de dois a sete dias.
Os resultados das duas avaliações informam ao médico o nível de risco. Se baixo, ele não precisará interromper a gestação. Nesse caso, ele pode prescrever tratamentos preventivos como baixas doses de aspirina e acompanhar a gestante. Durante esse período, a aplicação do teste e do protocolo deve ser repetida uma e duas vezes por semana, respectivamente.
No entanto, se ambos indicadores mostrarem risco alto, é indicada a cesárea de emergência.
O estudo testou se o protocolo foi eficaz para prolongar a gestação e reduzir partos prematuros em oito hospitais do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. O objetivo foi recrutar 1200 mulheres nestes centros, que eram sorteadas aleatoriamente. À medida que eram escolhidas ofereciam o protocolo para todas as gestantes com pré-eclâmpsia confirmada ou suspeita admitidas nas maternidades com menos de 37 semanas de gestação.
“O novo algoritmo foi bem recebido e utilizado pelos profissionais dos centros”, afirma Dias. “E já percebemos uma maior adesão ao uso de tratamentos para a profilaxia da pré-eclâmpsia como a utilização do cálcio e da aspirina”.
“Se a técnica se mostrar eficaz, podemos reduzir o número de partos prematuros, o que representa um duplo ganho: mais qualidade de vida para as crianças e menos gastos com internação para o sistema de saúde”, diz Dias, que está conduzindo estudos de custo-efetividade que devem ser divulgados em breve. “Nosso sonho é incorporar o novo algoritmo como avaliação de risco da doença em todos os serviços de saúde”.
Além da avaliação sobre a eficácia e impactos do algoritmo sobre as taxas de prematuridade, a equipe criou um biobanco com amostras de sangue e urina de 4000 mulheres durante o pré-natal em três momentos da gestação: no início dela, entre 28 e 32 semanas e no momento do parto. Amostras das gestantes com pré-eclâmpsia que fizeram parte do teste clínico dos dois testes também foram acrescentadas a esse repositório. “Além de comparar os materiais das gestantes com e sem a doença, poderemos entender as melhores abordagens para identificá-la e tratá-la precocemente”, afirma Dias. “O banco também servirá de base para outros estudos para aprofundarmos nosso conhecimento sobre o tema”. O objetivo é coletar amostras de 5000 mulheres.