
Prematuridade
Ensaio clínico randomizado com suplementação de magnésio durante a gravidez
João Guilherme Bezerra Alves
Diretor de Ensino e Coordenador do programa de Pós-Graduação do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP)
Apresentação do Projeto

O que é?
O estudo testou a eficácia de comprimidos de citrato de magnésio como forma de prevenir a ocorrência de parto prematuro. De fácil e barata fabricação, eles poderiam funcionar como uma opção de baixo custo para reduzir a prematuridade, principalmente em países com poucos recursos.
Como foi o experimento?
A equipe montou uma coorte de 1031 gestantes atendidas no pré-natal de três hospitais de Pernambuco: IMIP, em Recife, Dom Malan, em Petrolina e Petrolina Campos, em São Lourenço da Mata. Excluídas as recusas, 911 mulheres aceitaram participar. Utilizando um ensaio randomizado duplo-cego, 449 receberam os comprimidos de citrato de magnésio, e 462, um placebo. Cada gestante tomou 300 mg de citrato de magnésio diariamente a partir da vigésima semana de gravidez até o final da gestação. Durante as consultas de pré-natal, realizadas a cada 2-4 semanas, coletou-se sangue para os exames de rotina e dosou-se o magnésio. Cerca de 30% das gestantes apresentavam deficiência de magnésio na admissão do estudo, que mostrou se reduzir com o avanço da idade gestacional.
Principais Resultados
Em relação ao desfecho principal, o estudo mostra que o citrato de magnésio não oferece efeito protetor nem preventivo para parto prematuro, embora a taxa de prematuridade nessa coorte tenha sido menor (7%) em relação aos indicadores locais e nacionais, que é de 11,5%. Utilizando modelos de regressão logística, com ajustes para os fatores de risco socioeconômicos, demográficos, ambientais, obstétricos e antropométricos também não mostrou diferenças entre os dois grupos em relação aos desfechos adversos perinatais (nascimento prematuro, natimorto, pequeno para a idade gestacional) ou maternos (pré-eclampsia, descolamento prematuro e hipertensão placentária). Por outro lado, observou-se uma associação significantiva para o uso de magnésio oral em relação à mortalidade neonatal, com 0,6% de óbitos no grupo intervenção e 2,9% no grupo controle. É muito possível que o fato dessas gestantes terem tido um pré-natal diferenciado e acolhedor, associado a visitas domiciliares e atendimento telefônico personalizado, tenha tido alguma influência nesses desfechos positivos.
Por que é inovador?
Foi a primeira vez que a administração de citrato de magnésio foi avaliada no Brasil como medida de prevenção contra a prematuridade.
Qual é o problema que busca solucionar?
Segundo levantamento da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) de 2016, a taxa de prematuridade brasileira é de 11,5% dos nascimentos. De acordo com o IBGE, foram registrados 2,87 milhões de nascimentos no Brasil em 2017, o que significa que, em média, cerca de 330 mil bebês nascem antes das 37 semanas no país.
Implicações para o Sistema de Saúde Brasileiro
O estudo reforçou a importância de se garantir um pré-natal de qualidade não apenas para se evitar e reduzir os custos com partos prematuros, mas também para um melhor acompanhamento e saúde das gestantes.
Próximos Passos
Seria interessante pesquisar os possíveis efeitos de doses mais elevadas de magnésio, verificar a influência do mineral na diminuição da mortalidade neonatal e repetir a mesma pesquisa com o cálcio.
Estudos Publicados
